sábado, 21 de março de 2009

Testes "caseiros" com Shark Ponta Oca (expansivo)

Bom pessoal, hoje estava faltando energia elétrica em casa e a esposa e filhos estavam fora. Como eu não tinha nada para fazer, resolvi testar em casa os chumbinhos Shark Ponta Oca. Já havia lido muitos posts nos foruns sobre armas de ar dando conta que este chumbinho não expande como prometido pelo fabricante e resolvi investigar eu mesmo este fato.

Fui pela linha "MacGeiver: faça você mesmo com o que estiver à mão". Como não tenho muito espaço aqui, já que moro em apartamento, a maior linha de tiro que consegui foi em torno de 6 metros, da extremidade da sala até o fundo de um dos quartos. Como pára-balas um velho livro sobre "WebDesign usando FrontPage no Windows 95" (completamente inutil... ...hehe) e como alvo boas barras de sabão. Para efetuar os disparos, minha Shark 5,5 mm CO2 à ferrolho. Totalmente científico!

Bom, ao lado algumas fotos dos chumbinhos usados no teste. Clique sobe as fotos para amplia-las. Usei um chumbo Rifle calibre 5,5 mm como referencia para comparação com os Shark em mesmo calibre. Como já sabia que os Shark não expandem adequadamente, testei outra prática vista nos foruns: cortar as bordas do chumbinho de forma a facilitar a expansão. Fiz três cortes, tantando manter o padrão de um corte a cada 120 graus, de forma a dividir a circunferencia em tres partes iguais. Claro que não obtive essa precisão industrial nos cortes, já que usei um simples alicate de corte para fios elétricos (que aparece nas fotos!), mas fiz o possivel. Uma consequencia advinda deste corte é a perda de estabilidade do chumbinho, que ja não é lá essas coisas nos Shark. Ao corta-lo, alterei sua geometria e aerodinâmica e provavelmente alterei a posição do seu centro de massa. O resultado disto é que, em comparação aos chumbos não alterados, ele passou a desviar para cima e para a esquerda, quase 3 centimetros na distancia de 6 metros. Como diz Mr. Beeman em seus artigos, tem muita ciencia em cima de um simples chumbinho!! Cabe aos atiradores com mais fome de saber, para os quais não basta apenas apertar o gatilho, e sim também entender os fenômenos físicos que ocorrem entre o disparo e o impacto no alvo, desvendar essa ciência! To tentando trilhar esse caminho....

Ao lado, fotos do chumbinho Shark cortado, e sua comparação com um original, sem cortes, e com o Rifle 5,5 mm.






Os testes
Bom, uma vez realizadas as alterações necessárias nos chumbinhos, passei à relização dos testes. Meu material balístico escolhido foi uma barra de sabão Rio, de consistência macia, bem similar ao sabão Ypê, tão usado nos foruns para testes de velocidade inicial (Vo).

Em uma mesma barra de sabão, efetuei um disparo com o chumbinho Rifle calibre 5,5 mm. Em seguida, um disparo com o chumbinho Shark Ponta Oca sem modificações. Por último, em uma segunda barra de sabão, efetuei dois disparos com o Shark Ponta Oca Cortado. Notar que devido ao problema da perda de estabilidade após o corte, o primeiro disparo nesta barra quase erra o alvo. Visei no centro da barra e o impacto ocorreu no canto superior esquerdo!! Fiz a devida compensação na visada para efetuar o segundo disparo. Os resultados podem ser vistos nas fotos ao lado.


Com o chumbinho Rifle e o Shark Ponta Oca "original", a barra foi transfixada (sobrepenetração), permanecendo praticante imóvel no momento do impacto, o que era de se esperar para o primeiro mas não devia acontecer com o segundo. O fato é que o Shark Ponta Oca não sofreu expansão, entrando e saindo incolume pelo alvo. Expansão maior sofreu o Rifle, que causou um orificio de entrada ou "wound channel" de aproximadamente 8 mm de diametro, contra os rigorosos 5,5 mm do Shark. Ambas as medidas tomadas usando-se uma régua escolar, diga-se de passagem, mantendo a coerencia com o criterio "caseiro" do teste. O maior orificio de entrada para o chumbinho Rifle explica-se pelo fato da cabeça do projétil ser oca e deformar-se no impacto contra o alvo, tendendo a assumir uma forma de disco (imagine uma esfera de massa de modelar sendo comprimida contra uma superficie, transformando-se em um disco). Já contra a segunda barra, usando-se o Shark cortado, houve expansão em ambos os disparos. O primeiro disparo jogou o alvo para fora da mesa e praticamente explodiu a parede lateral da barra de sabão, mostrando que houve uma súbita transferencia de energia do projetil para aquele ponto, tendo o projetil escapado pelo orificio de saída e caído intacto ao chão, o que indica que estava praticamente sem energia cinética nesta ponto. O segundo disparo, igualmente derrubou o alvo da mesa, mas desta vez não trasfixou-o, ficando o projétil alojado dentro da barra de sabão.

Ao lado, temos o detalhe do resultado do teste com chumbo Rifle, onde ve-se o orificio de entrada, maior que o projétil, um chumbinho não disparado e o chumbinho retirado do pára-balas, para comparação.




Ao lado, temos o detelhe do resultado do teste com chumbo Shark Ponta Oca "Original". Notar que o orifício de entrada tem praticamente o mesmo diametro do chumbinho. Observar o projetil retirado do pára-balas. Ele não sofreu qualquer expansão e teve apenas a ponta oca esmagada! Detalhe é que dá para ver as marcas do raiamento do cano impressos no projétil também.




No detalhe, o resultado do primeiro disparo com o Shark Ponta Oca cortado. Veja que o orificio de entrada permanece pequeno, perto do diametro do projetil, mas veja o estado do danado depois do impacto!! Sofreu expansão total, tendo seu diametro passado de 5,5 mm para aproximadamente 10 mm, ficando com a caracteristica forma de cogumelo. Notar no detalhe a parede quebrada da barra de sabão, indicando que houve uma forte pressão de dentro para fora. Deste pequeno ensaio dá para inferir que o formato do projétil não ajuda no quesito expansão, pois ele forma um cone com uma abertura bastante reduzida o não permite que a cavidade seja preenchida de forma adequada durante o impacto. Talvez uma pequena marca ou chanfro na leteral deste cone, feita no processo de produção bastasse para resolver o problema. Notar que ele difere bastande de um H&N Crow Magnum, por exemplo, que possui uma cavidade e uma abertura bem maiores, sendo de longe o mais expansivo em todos os reviews de chumbinho que eu já li até o momento.






Na figura ao lado, a dissecação que fiz na barra de sabão para extrair o ultimo chumbinho, que ficou alojado em seu interior. Como não sou do CSI e sou bem desastrado, destrui boa parte do canal criado pelo projetil durante minha "autopsia", mas olhando a barra de sabão antes do corte, nota-se que a mesma rachou na parte de trás, e está um pouco "tufada", mostrando que ouve uma grande pressao dentro da mesma. Ao abrir a barra, notei uma cavidade dentro da barra, onde estava alojado o chumbinho. A cavidade tem aproxidamente 6 x 8 mm e mostra que o projetil "arrebentou" o que havia por ali. No detalhe, um chumbinho novo ao lado do chumbinho extraido do alvo.


Conclusões preliminares
Pelos resultados praticos obtidos nesta manhã, posso concluir preliminarmente que os chumbinhos Shark Ponta Oca não são capazes de sofrer a expansão esperada, pelo menos disparados de uma arma de media potencia como a Shark Ferrolho CO2. Portanto, não serão eficientes para o fim ao que se destinam, qual seja, o abate de pequenos animais (pest control).

Só para exemplificar o papel da expansão na finalidade a que se destina este tipo de chumbinho, considere que, segundo o fabricante Shark, seu projétil ponta oca tem massa de 1,45 gramas e atinge 180 m/s de Vo em uma Shark Ferrolho como a minha (dados de http://www.armasshark.com.br/municoes.php). Temos então uma energia na boca do cano de:

Em Joules:
Ec = (mv^2 )/2 ==> Ec = (0,00145*(180)^2)/2 = 46,98/2 ==> Ec = 23,49 Joules

Ou em FPEs:
Ec(fpe) = 0,737562 * 23,49 ==> Ec(fpe)= 17,32 fpe

Esta quantidade de energia equivale, grosseiramente falando, a energia liberada por uma massa de cerca de 400 gramas (uma cabeça de martelo, por exemplo), caindo de aproxidamente 5,3 metros de altura. Imagine você lá embaixo, sob o ponto de impacto dessa massa!! Como podem perceber, é energia suficiente para abater uma pequena peste como um rato ou um pombo de forma instantânea, mas isto só irá ocorrer se esta energia for adequadamente transferida para o alvo, o que só é conseguido com chumbinhos expansivos que de fato cumpram seu papel. Se o alvo for transfixado, apenas parte da energia é transferida para a caça e ela provavelmente fugirá, ferida, e poderá levar dias para de fato morrer, o que é um sofrimento desnecessário para o animal.

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